Pela primeira vez em Alagoas, reeducando cola grau dentro do presídio

Pela primeira vez em Alagoas, reeducando cola grau dentro do presídio

Um momento histórico. Foi assim a noite dessa segunda-feira (05), no Núcleo Ressocializador da Capital (NRC). Isso porque a unidade que já abrigou o antigo Presídio São Leonardo – palco de motins e rebeliões que custaram vidas – recebeu a primeira formatura de reeducando dentro do sistema prisional. A cerimônia, realizada em parceria com a Faculdades Integradas Norte do Paraná (Unopar), marcou o fim do curso de Logística do reeducando Jonathan dos Santos.

A graduação começou no cárcere em 2018. Mas, antes de descobrir o interesse pelo ensino superior, o custodiado conseguiu o certificado de conclusão de ensino médio, também no sistema prisional. “Cheguei aqui apenas com o nono ano do ensino fundamental. Então, fiz supletivo, Encceja e o Enem”, contou o custodiado, que destacou o apoio recebido pela Secretaria da Ressocialização e Inclusão Social (Seris).“Eu me sinto privilegiado por ser o primeiro a me formar dentro de uma unidade [prisional]. Isso mostra que temos como continuar nossas vidas, e a educação é muito importante nesse sentido. Quando entrei no sistema prisional, eu era um homem bruto, ignorante e pobre de conhecimento. Hoje, posso dizer que não sou mais um leigo. A educação é transformadora, muda a vida do ser humano. Basta querer e se dedicar”, completou.

Esposa de Jonathan, Janaina dos Santos esteve presente na solenidade, assim como em cada etapa vivida por ele no cárcere. “Este é um momento muito importante porque, quando chegou aqui [sistema prisional], ele era uma pessoa totalmente diferente, procurando a verdadeira mudança desde que chegou ao Núcleo”, relatou a companheira.Sobre a conclusão do ensino superior, Janaina mostrou-se emocionada. “Para mim é muito importante, pois sempre o apoiei, sempre disse que ele tinha que buscar coisas melhores. Eu luto lá fora e ele luta aqui de dentro. No auge da pandemia, ele queria desistir, mas, felizmente, não desistiu e, hoje, podemos viver este momento”, disse.

Educação que transforma

No sistema prisional, o acesso à educação é coordenado pela Supervisão de Educação da Seris. Por meio deste setor, reeducandos têm a oportunidade de se inscrever em cursos da educação formal – fundamental e médio –, ensino superior e pós-graduação, além dos cursos profissionalizantes.Para o secretário da Ressocialização, coronel PM Marcos Sérgio de Freitas, a colação de grau foi um momento de referência. Na ocasião, ele destacou o sucesso da política de ressocialização da Seris, bem como o trabalho dos policiais penais. “Esta é a primeira colação de grau dentro do sistema prisional alagoano, e eu tenho certeza que muitas outras virão. Quero destacar e agradecer o trabalho dos policiais penais, pois, sem o empenho para manter a ordem, a disciplina e a segurança, este momento não seria possível”, destacou.

Já conforme a supervisora de Educação, policial penal Jaciara Tenório, a educação é um dos pilares da verdadeira ressocialização. “A educação é a única forma de resgate, já que até a fé, sem educação, é cega. Eu acredito muito na importância da educação, na disponibilidade e desejo de vocês [reeducandos] em continuar estudando. Esse enriquecimento educacional é grande e transforma muito mais que currículos. Transforma também a alma. Estou muito feliz em estar aqui, e agradeço a oportunidade de poder vivenciar tudo isso, agregando à minha carreira de policial penal”, afirmou.O formando, por sua vez, não conseguiu esconder a emoção, dedicando sua conquista aos familiares e aos amigos que fez no cácere. “Foi a única forma que eu enxerguei de poder me desligar do mundo em que eu vivia, e isso impacta positivamente na vida que eu quero levar. Muitas pessoas olham pra mim e percebem essa mudança. Por isso é que eu digo: lutem, persistam. Todos nós podemos conseguir nossos objetivos, mas precisamos lutar”, salientou Jonathan, referindo-se ao impacto da educação em sua vida.

Núcleo Ressocializador e a educação                                                            A Unopar está presente no Núcleo Ressocializador há mais de três anos. Neste período, possibilitou o acesso à educação superior a dezenas de reeducandos. Em seu pronunciamento, o diretor-geral da Unopar, Benedito Anadão, destacou o trabalho desenvolvido até aqui.


“Costumo dizer que a educação não tem muros ou fronteiras. A educação está para todos e, com isso, a universidade se propõe a fazer um trabalho grandioso no NRC, para que possamos oferecer a estas pessoas o acesso à educação superior. Precisamos formar essas pessoas para que, quando saiam, tenham uma profissão pré-estabelecida, um novo horizonte de vida”, disse.

Para a chefe da unidade, policial penal Larissa Vital, a colação de grau foi um momento de gratidão e confirmação do trabalho de excelência executado por toda a equipe do Núcleo Ressocializador nestes 10 anos de existência.

“Estou muito feliz em poder vivenciar este momento. O Núcleo existe há uma década, e a secretaria vem fortalecendo as políticas envolvidas neste processo, fomentando a educação, a assistência à saúde e o acesso ao trabalho, bem como a assistência religiosa. Trabalhamos, diariamente, para possibilitar tudo o que é necessário à ressocialização, para que todos possam virar a página de suas vidas”, avaliou a gestora.

Comentários